2.2.07

Saudades da Solidão

Aeroporto Internacional Francisco Sá Carneiro, Porto. Aqui estou eu, sentado junto à porta de embarque, esperando pelo avião que me levará para longe daqueles de quem gosto, mas para mais perto do sonho que no meu adorado país se torna mais difícil a cada dia.

Falta cerca de uma hora para o vôo e já mal ouço falar português. Os oriundos do meu destino intercalar - Londres - conversam sobre o quão fascinante é o nosso Portugal; o sol, a comida.. Atrás de mim, duas raparigas conversam numa língua que desconheço mas que depreendo ser polaco, já que imensos polacos me "fizeram companhia" nas minhas anteriores viagens para terras de Sua Majestade.

Como é costume meu sofro já por antecipação da fobia que tento superar a cada deslocação aérea. Não consigo evitá-lo. A lembrança daquele dia em que a minha cabeça parecia querer desconjuntar-se durante aqueles holocáusticos 20 minutos de descida e aterragem faz-me retorcer-me por dentro.

O meu desejo? Chegar ao meu destino final - Glasgow - o mais rápido possível. Ok.. o meu desejo? Ligar aos meus pais e pedir-lhes que me venham buscar. Sei que é o meu sonho e que é já a 3ª vez que faço esta viagem, mas.. Serão os sonhos capazes de suplantar a realidade? Qual é essa realidade? Passo a responder: estou prestes a deixar o sítio onde estão todos aqueles de quem gosto e que sei que sentem o mesmo por mim. Estou prestes a voltar para um sítio onde me sinto só cerca de 23 horas por dia, onde tenho o meu espaço, pelo qual pago um preço muito alto e uma liberdade que, como qualquer outra, dá azo a alguns excessos esporádicos.

Escreita mais de uma página pautada A4, eis que chega a altura de revelar o motivo que me leva a escrever: o antagonismo entre a falta de oportunidades no país que me viu nascer e crescer e a oportunidade que me foi dada num país frio, cinzento, chuvoso e da mais profunda ruraleza urbana e que embora pareça perfeita tem esse duro senão da brutalidade da solidão em que pareço viver quando estou naquela que considero a minha casa (a dos meus pais) e a que pareço fintar entre as quatro paredes que em breve vou abandonar e das quais, até ao momento, não tenho motivo de saudade. Será por essa palavra ser única do país que me preparo para deixar? Não sei, mas que parece, parece, e ao contrário do que se diz, por vezes, o que parece é mesmo.

Bom, tenho agora que guardar o caderno e a caneta. Está na hora de embarcar e despeço-me do meu amado e eterno país com um tão português "até já", na esperança que não me traia a minha língua mãe.

Porto, 28 de Janeiro de 2007
Tommy Malone