29.12.09

Tudo ou Nada

Ao fim de uma carrada de tempo sem escrever o que quer que fosse neste canto recôndito da internet, lembrei-me que tinha coisas para dizer! Por isso, aqui vai:

Vivemos, hoje em dia, numa sociedade em transformação. Esta é uma afirmação desprovida de grande espectacularidade ou novidade, já que as sociedades, desde o início da primeira, sempre estiveram em transformação. Mas as transformações dos nossos tempos têm um impacto que vai muito para além do que as pessoas compreendem ou daquilo que querem ver. Digo isto porque, ao aceitarmos, por exemplo, o "casamento Gay" estamos a abrir portas a que outras coisas se tornem legítimas. Não está em causa eu ser a favor ou contra, está em causa um facto: numa sociedade democrática, estamos a dar voz às minorias, sem questionar a população para saber a opinião da maioria. Não tenho dúvidas de que a democracia está a morrer, se não estiver mesmo morta. É tempo de quebrarmos este paradigma, se não voltamos ao final do século XIX. A questão é saber como queremos construir o próximo paradigma e esta questão é profundamente paradoxal na sua essência. Senão vejamos, dando aso ao "casamento Gay", não seria justo também liberalizar a poligamia e permitir o casamento "poliamoroso"? Afinal, há uma minoria - não tão minoritária como isso - de pessoas em Portugal que seguem várias religiões em que a poligamia é encarada como algo normal. Não será uma minoria passível de merecer algum respeito? E quem diz a poligamia, por que não questionar o casamento entre parentes directos, como irmãos ou pais e filhos? Afinal, uma pessoa não escolhe aqueles por quem se apaixona e, para todos os efeitos, o verdadeiro problema de uma relação amorosa entre irmãos ou pais e filhos é um problema do foro individual, não tão diferente daquele com que os homossexuais se deparam: não se podem reproduzir, é uma relação não fértil. Mas não teriam então a hipótese de adoptar crianças? E, num rasgo de extremo liberalismo e de extrema abertura, não poderiam apaixonar-se pelos filhos adoptivos?

Entre outros motivos, este é um dos que me levam a dizer que esta é uma questão paradoxal, porque os problemas morais que colocamos às variadas situações acabam quando os aceitamos como normais. Há umas poucas centenas de anos atrás era perfeitamente "normal" escravizar os menos fortes. Hoje não o é, e é um acto deplorável. Daqui a uns anos, estou certo que muitas das coisas que hoje consideramos normais serão vistas como deploráveis e vice-versa.

Relativamente à mudança de paradigma e à forma como esta se poderá processar, temos que ter consciência que as alterações aos conceitos da moral humana que se estão a processar na sociedade de hoje em dia vão ter, como disse, um profundo impacto no Mundo futuro. Será que queremos um Mundo em que tudo é liberalizado e todos vivem como querem porque não têm poder de decisão sobre os seus sentimentos? Se demorámos tantos anos a organizar-nos, será assim tão lógico agora liberalizarmos tudo e tornarmos esta uma sociedade anárquica? Eu acredito que as regras servem para servir os interesses comuns e não os caprichos individuais. A justiça das mesmas será sempre relativa, mas se algum dia alguém "inventou" a democracia e deu poder às maiorias, não será um passo atrás começarmos a dar poder às minorias? Não digo isto por medo das minorias, sejam elas quais forem, mas apenas para fazer aqui uma chamada à razão. Não profetizo ideais no que toca a estes assuntos, mas questiono-me e questiono-vos sobre o que será o futuro da nossa espécie se não nos esclarecermos rapidamente! Não podemos viver numa dúvida constante e a resposta não pode ser sempre a mais fácil, nem sempre a mais difícil. Doseamento é coisa que parece ter desaparecido nos dias de hoje e, em tempos de extremismos, sendo obrigado a escolher um, posso apenas dizer que, apesar de compreender, não defendo as políticas holandesas (que poderiam muito bem dar aso a um novo post).

Tenho muito mais para dizer, mas como o meu poder de síntese é fraco, vou ficar por aqui e expandir-me sobre outros assuntos em breve.

Continuação de boas festas e boa entrada no futuro! Talvez dê notícias antes!

Tommy Malone